Por Paulo de Oliveira Enéas*
As manifestações realizadas nesse domingo reuniram centenas de milhares de pessoas em dezessete estados do país. Mais uma vez a capital paulista foi palco da maior manifestação, com dezenas de milhares de pessoas ocupando a Avenida Paulista, em um ato que teve uma característica bastante distinta das demais manifestações realizadas anteriormente: a pauta política de direita e de perfil mais conservador se fez mais presente, tanto nos discursos do vários oradores nos caminhões de som, quanto nos gestos e atitudes das pessoas no chão da avenida.
Cartazes e faixas dizendo não ao comunismo, discursos condenando as políticas públicas de esquerda, menções ao drama causado ao povo venezuelano pela ditadura socialista de Nicolas Maduro defendida e apoiada pela esquerda brasileira, se somaram à defesa da Lava Jato, aos pedidos de prisão de Lula além, é claro, da defesa da aprovação em definitivo do impeachment. Um grupo de estudantes, liderados por Tatiana Moreira Alvarez, produziu milhares de panfletos, além de cartazes e faixas, em defesa do Escola Sem Partido, que acabou por se tornar o tema quase que predominante em toda a manifestação e também presente em vários discursos.
Ainda que o público tenha sido menor do que aquele das manifestações anteriores, a manifestação desse domingo serviu para mostrar a disposição que existe em uma parcela da população em ir às ruas em defesa de pautas que vão muito além do impeachment. Pautas essas que têm um nítido viés conservador e de direita. Até porque, o impeachment é um processo político irreversível: não existe no horizonte a possibilidade de concretização de um cenário político em que o petismo volte a comandar o poder executivo, e por uma série de razões, como já havíamos afirmado nesse artigo aqui escrito há mais de dois meses.
Ás manifestações políticas devem e precisam continuar, pois não podemos permitir que as ruas voltem a ser monopólio da esquerda. Mas diante do novo quadro político que vai se abrir com a consolidação do impeachment, será necessário repensar o formato desses próximos atos, tanto no aspecto de organização quanto de definição de foco em termos de uma pauta. Mas não pode haver dúvidas quanto à natureza dessa pauta: trata-se de dar continuidade ao combate às políticas de esquerda, o que inclui hoje a defesa do Escola Sem Partido, o fim das urnas eletrônicas, o combate ao ativismo judiciário e à partidarização da suprema corte, o desaparelhamento do estado entre outros.
Por fim, a nota dissonante fica por conta do comportamento politicamente leviano e irresponsável que as lideranças do MBL tiveram ao longo da semana: além de promoverem o boicote e a sabotagem da manifestação usando da influência do grupo junto à grande imprensa, onde foram plantadas várias notícias falsas anunciando o suposto cancelamento do ato, alguns líderes do MBL resolveram aparecer na Manifestação da Avenida Paulista com o objetivo de capitalizar eleitoralmente junto ao público. Apesar de terem discursado no carro de som de um dos grupos, que inexplicavelmente resolveu ceder espaço para quem boicotou a manifestação, os dois dirigentes do MBL foram hostilizados por uma parte do público presente.
* ENÉAS, Paulo de Oliveira. Manifestações de 31 de Julho: Saldo e Balanço. Crítica Nacional. São Paulo, 01º ago. 2016. Disponível em: <https://criticanacional.wordpress.com/2016/08/01/manifestacoes-de-31-de-julho-saldo-e-balanco>. Acesso em: 01º ago. 2016.
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