Por Ana Mônica Jaremenko*
Não resisti à paráfrase. Mas vou explicar. Em 13 de março de 1964, o Presidente João Goulart, comunista de carteirinha, anunciou em comício no Rio de Janeiro um programa de reformas em que tomaria medidas extremas, o que ele chamava de "reformas de base". Ele assinara o Decreto da "Supra", desapropriando terras, encampando refinarias particulares de petróleo, anunciando o monopólio da Petrobrás, tabelamento de aluguéis e reforma da Constituição. Dizem que havia cerca de 130 mil cidadãos assistindo ao comício, que era retransmitido a todo volume na Praça da Sé, em São Paulo.
Segundo o Jornal do Brasil, edição do dia seguinte, senhoras paulistas rezavam um terço nos degraus da Catedral da Sé, pedindo proteção a Deus contra a ameaça comunista no Brasil. Estudantes da Universidade Mackenzie manifestaram-se contra a encampação da Refinaria de Capuava, anunciando um movimento de protesto contra o decreto.
A sociedade civil começou então a pedir a deposição do Presidente da República. A primeira dessas manifestações ocorreu em São Paulo, a 19 de março, no dia de São José, considerado pela Igreja Católica padroeiro da família. A manifestação paulista contava com organizações femininas como a Campanha da Mulher pela Democracia (Camde), a União Cívica Feminina, a Fraterna Amizade Urbana e Rural, entre outras entidades, e recebeu apoio da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo. Participaram do evento cerca de 300 mil pessoas. A Marcha, como foi chamada, começou na Praça da República, finalizando na Praça da Sé, com a celebração da missa "pela salvação da democracia" e distribuição do Manifesto ao Povo do Brasil, convocando a população a reagir contra Goulart.
A iniciativa da Marcha da Família repetiu-se em outras capitais mesmo após o Senador Áureo de Moura Andrade declarar vaga a Presidência em 2 de abril de 1964, o que as tornou conhecidas como "marchas da vitória". A marcha do Rio de Janeiro, articulada pela Camde, levou às ruas cerca de um milhão de pessoas no dia 2 de abril de 1964.
Ora, toda essa informação está historicamente documentada. Minha pesquisa foi no acervo digital do Jornal do Brasil na Biblioteca Nacional, no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas e em artigos e declarações de jornalistas e observadores da época. Ao final desse artigo, colocarei as fontes confirmando os fatos.
Segundo Stephen Kanitz, o povo comemorava o fim da ameaça comunista. Os militares não tinham interesse de se perpetuarem no Poder. Pensavam que seria um governo interino até as próximas eleições, respeitando o calendário eleitoral natural.
Os intelectuais da época apoiavam todo esse desenlace. Então, você que está lendo deve estar se perguntando: se o povo se manifestou em massa pela deposição de João Goulart e comemorava com marchas da vitória, o que fez com que mudassem de opinião?
A Constituição vigente à época era a de 1946, que trazia em seu artigo 203 o mesmo artigo 113 nº 36 da Constituição de 1934, com o seguinte texto:
“Nenhum imposto gravará diretamente a profissão de escritor, jornalista ou professor”.
Kanitz diz que os militares cometeram seu maior erro ao promoverem a Emenda Constitucional nº 9 de 22 de julho de 1964, aprovada 81 dias depois, passando a obrigar todo jornalista, escritor e professor do país a pagar imposto de renda, algo que nenhum deles fazia desde 1934.
Em minha leitura desse ponto, achei estranho esse artigo, haja vista ele ir de encontro ao nº 1 do mesmo artigo onde estava escrito que
“Todos são iguais perante a lei. Não haverá privilégios, nem distinções, por motivo de nascimento, sexo, raça, profissões próprias ou dos pais, classe social, riqueza,crenças religiosas ou idéias políticas”.
Como então jornalistas, escritores e professores gozavam de privilégios que o restante da população não tinha? E não era só isso não. Jornalistas tinham desconto de 50% em passagens aéreas, não pagavam imposto predial, imposto de transmissão, imposto complementar, tinham isenção em viagens de navio, transporte gratuito ou com desconto nas estradas de ferro da União, 50% de desconto até em casas de diversões.
Esses intelectuais que haviam apoiado o Congresso e os militares na deposição do Presidente comunista, esses mesmos que usufruíam de tantos privilégios, que não pagavam imposto há 30 anos, sentiram-se traídos com a aprovação da Emenda Constitucional nº 9. Foi assim que começou o revés, a mudança de opinião, começando a influenciar a população contra Regime Militar e enaltecendo os ideais comunistas.
Assim surgiram os intelectuais de esquerda no Brasil ou, parafraseando a obra cinematográfica, inaugura-se a Sociedade dos Poetas Aproveitadores, que não querem pagar impostos, querem usufruir do bom e do melhor, curtir a vida, enquanto o resto da população banca os custos sociais. Talvez por terem assim cauterizado a razão, temos testemunhado hoje como essa intelectualidade tem reagido ao fim das mordomias com a ameaça de ficarem sem o Ministério da Cultura ou sem o financiamento da Lei Rouanet.
Como revanche, passados 50 anos do que eles denominaram de “golpe”, não vemos nenhum jornalista ou professor de História, Filosofia ou Sociologia tocar nesse assunto em suas classes. Temos inclusive que levar em conta que os jornalistas e professores de hoje não têm conhecimento dos verdadeiros fatos que são comprovados documentalmente, haja vista não terem sido ensinados na verdade.
Será que, após essa revelação, jornalistas, escritores e professores, apoiadores do comunismo e do socialismo, formadores de opinião que são, não mudarão seus discursos? Ou continuarão seguindo a filosofia de Gerson. de levar vantagem em tudo?
* Eu sou Ana Mônica Jaremenko, escritora (poeta e cronista), ativista política, blogueira, gestora de mídias sociais e corretora de imóveis. Administradora, dentre outros, do blog Simplesmente Fedora. Fedora é meu heterônimo para assuntos políticos.
Graça e paz!
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