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quarta-feira, 31 de maio de 2017

Por que o marxismo odeia o Cristianismo*

Por Eguinaldo Hélio Souza*

O marxismo autêntico sempre odiou e sempre odiará o cristianismo autêntico. Se não puder pervertê­lo, então terá que matá-­lo. Sempre foi assim e sempre será assim.

E por que essa oposição manifestada ao cristianismo por parte do marxismo? Por que o ódio filosófico, a política anticristã, a ação assassina direcionada aos cristãos? Por que o país número um em perseguição ao cristianismo não é muçulmano e sim a comunista Coréia do Norte?

As pessoas se iludem quando pensam no marxismo como doutrina econômica ou política. Economia e política são meros pontos. Marx não acreditava ter apenas as resposta para os problemas econômicos. Acreditava ter todas as respostas para todos os problemas.

Marxismo na verdade é uma crença, uma visão de mundo, uma fé. O socialismo nada mais é do que a aplicação dessa fé por um governo totalitário. O comunismo, por sua vez, é apenas a escatologia marxista, o suposto mundo paradisíaco que brotaria de suas profecias.

E esta fé não apresenta o caráter relativista de um hinduísmo ou de um budismo. Tendo nascido dos pressupostos cristãos, o marxismo roubou seus absolutos e se apresenta como a verdade absoluta, como o único caminho para redenção da humanidade. E ainda que tenha se apossado dos pressupostos cristãos, inverteu tais pressupostos tornando­-se uma heresia anticristã.

No lugar do teísmo o ateísmo, no lugar da Providência Divina o materialismo dialético. Ao invés de um ser criado à imagem e semelhança de Deus, um primata evoluído cuja essência é o trabalho, o homo economicus. O pecado é a propriedade privada, o efeito do pecado, simplesmente a opressão social. O instrumento coletivo para aplicar a redenção não é a Igreja, mas o proletariado, que através da ditadura de um Estado "redentor" conduziria o mundo a uma sociedade sem classes. E o resultado seria não os novos céus e a nova terra criados por Deus, mas o mundo comunista futuro, onde o Estado desaparecerá, as injustiças desaparecerão e todo conflito se transformará em harmonia. Está é a fé marxista, um evangelho que não admite rival, pois assim como dois corpos não ocupam o mesmo espaço, duas crenças igualmente salvadoras não podem ocupar o mesmo mundo, segundo o marxismo real.

Sim, o comunismo de Marx era um evangelho, a salvação para todos os conflitos da existência, fosse o conflito entre homem e homem, homem e natureza, nações e nações. Assim lemos em seus Manuscritos de Paris:
"O comunismo é a abolição positiva da propriedade privada e por conseguinte da auto-alienação humana e, portanto, a re-apropriação real da essência humana pelo e para o homem… É a solução genuína do antagonismo entre homem e natureza e entre homem e homem. Ele é a solução verdadeira da luta entre existência e essência, entre objetivação e auto­-afirmação, entre liberdade e necessidade, entre indivíduo e espécie. É a solução do enigma da história e sabe que há de ser esta solução."
E como o marxismo nega qualquer transcendência, qualquer realidade além desta realidade, seu "paraíso" deve se realizar neste mundo por meio do controle total. Não apenas o controle político e econômico, mas o controle social, ideológico, religioso. Não pode haver rivais. Não pode haver cristãos dizendo que há um Deus nos céus a quem pertencem todas as coisas e que realizou a salvação através da morte e ressurreição de Cristo. Não pode haver outra visão de mundo que não a marxista, não pode haver outra redenção senão aquela que será trazida pelo comunismo. O choque é inevitável.

Esta é a raiz do ódio marxista ao cristianismo. Seu absolutismo não permite concorrência.

David H. Adeney foi alguém que viveu dentro da revolução maoísta (comunista) na China. Ele era um missionário britânico e pode ver bem de perto o choque entre marxismo e cristianismo no meio universitário, onde trabalhou. Chung Chi Pang, que prefaciou sua obra escreveu:
"(…) a fé cristã e o comunismo são ideologicamente incompatíveis. Assim, quando alguém chega a uma crise vital de decisão entre os dois, é inevitavelmente uma questão de um ou outro (…) [o autor] tem experimentado pessoalmente o que é viver sob um sistema político com uma filosofia básica diametralmente oposta à fé cristã."
Os marxistas convictos sabem da incompatibilidade entre sua crença e a fé cristã. Os cristãos ainda se iludem com uma possível amizade entre ambos. "… para Marx, de qualquer forma, a religião cristã é uma das mais imorais que há" (Mclellan, op. Cit., p.54). E Lenin, que transformou a teoria marxista em política real, apenas seguiu seu guru:
"A guerra contra quaisquer cristãos é para nós lei inabalável. Não cremos em postulados eternos de moral, e haveremos de desmascarar o embuste. A moral comunista é sinônimo de luta pelo robustecimento da ditadura proletária."
Assim foi na China, na Rússia, na Coreia do Norte e onde quer que a fé marxista tenha chegado. Ela não tolerará o cristianismo, senão o suficiente para conquistar a hegemonia. Depois que a pena marxista apossar­se da espada, então essa espada se voltará contra qualquer pena que não reze conforme sua cartilha.

Os ataques aos valores cristãos em nosso país não são fruto de um acidente de percurso. É apenas o velho ódio marxista ao cristianismo, manifestando­se no terreno das ideias e das discussões, e avançando no terreno da legislação e do discurso. O próximo passo pode ser a violência física simples e pura. Os métodos podem ter mudado, mas sua natureza é a mesma e, portanto, as conseqüências serão as mesmas.

Se nós, cristãos, não fizermos nada, a história se repetirá, pois como alguém já disse, quem não conhece a história tende a repeti-la. E parece que mesmo quem a conhece tende a repeti-la quando foi sendo anestesiado pouco a pouco pelo monóxido de carbono marxista.

Será que confirmaremos a máxima de Hegel, que afirmou que a "história ensina que não se aprende nada com ela"?

Marxismo-Cristão: uma contradição alarmante*

Por Thiago Oliveira*

1. Para Início de Conversa

Esse é o tipo de texto que me deixa feliz ao escrever, pois tratarei de campos do saber que muito me agradam discutir e que fazem parte da minha formação acadêmica. Com graduação em História e especializado em Ciência Política, conheço e estudei o marxismo sob a ótica de diversos teóricos favoráveis e contrários às ideias difundidas por Karl Marx - esta figura controversa. Sou da opinião de que algo da sua leitura acerca das relações entre empresários e trabalhadores (no contexto da Revolução Industrial) não pode ser totalmente desprezada, no entanto, creio que sua desgraça foi reduzir todo o fluxo da História apenas à questão econômica. Também acredito que ele não conseguiu escapar de algo que tanto atacou: a ideologia. O mais irônico é ter as suas ideias utilizadas como uma religião. A tragédia marxiana foi denunciar o ópio da religiosidade e acabar vendo seus seguidores produzindo uma droga sintética chamada marxismo-leninismo [1].

Como veneno não cura veneno, onde quer que o marxismo-leninismo tenha se instaurado como regime, deixou um rastro de miséria que faz com que os países do leste europeu - que integraram a antiga União Soviética - recebam de muito bom grado as ideias vindas da boca do diabo, mas rechacem todo e qualquer pressuposto que tenha sua raiz no pensamento de Marx. Isto porque em nome do ideal comunista, que envolvem a ditadura do proletariado e a luta de classes, as atrocidades cometidas pelos líderes "revolucionários" se equiparam a de nomes execráveis como Hitler e Bin Laden. O governo de Stalin, por exemplo, foi um dos mais mortais, superando e muito o número elevado de mortes produzido pelo nazismo. Esta mórbida associação entre stalinismo e nazismo é esmiuçada pela filósofa e teórica política Hannah Arendt:
"O único homem pelo qual Hitler sentia 'respeito incondicional1 era 'Stalin, o gênio', e, embora no caso de Stalin e do regime soviético não possamos dispor (e provavelmente nunca venhamos a ter) a riqueza de documentos que encontramos na Alemanha nazista, sabemos, desde o discurso de Khrushchev perante o Vigésimo Congresso do Partido Comunista, que também Stalin só confiava num homem, e que esse homem era Hitler" [2].
Aos que pensam que o totalitarismo foi coisa de Stalin apenas, pesquisem sobre as denúncias de Alexander Solzhenitsyn sobre o governo autocrático de Lenin e vejam a absurda e atual falta de liberdade interna na China e na Coréia do Norte. Como disse Schaeffer, a repressão "é uma parte integrada ao sistema comunista" [3]. Logo, o remédio que o marxismo se dispôs aplicar para curar a enfermidade da sociedade é tão desastroso, que é preferível permanecer doente. Esta é a lógica do paciente quando sabe que as contraindicações medicamentosas são bem piores do que os sintomas da doença.

2. Por que Marxismo e não Socialismo?

Considero que seja bom explicar a adoção do termo marxismo ao invés de falar socialismo (ou comunismo). Faço isso pelo fato do conceito de socialismo ser usado de uma forma tão variada que supera os postulados marxianos. Alguns socialistas, como Crosland, não enxergam o socialismo como sendo um poder antagônico ao capitalismo, mas sim uma forma de aprimorar as condições de trabalho e melhorar a vida dos trabalhadores, mesmo dentro do sistema capitalista. Acaso não é assim que são geridas as sociais-democracias europeias? O sociólogo P. Jaccard afirma em sua obra Histoire sociale du travailque em matéria social, tudo que foi realizado no mundo de língua inglesa, na Suíça, nos Países Baixos, na Escandinávia e na Alemanha, deve-se ao pensamento cristão com pressupostos bíblicos. Corrobora com isso a fala do primeiro-ministro britânico Clement Attle, sucessor de Churchill, que certa feita afirmou ser a Bíblia, e não os escritos de Marx, a base do socialismo britânico. Este socialismo do qual Attle se refere é aquele que após a II Guerra, com o continente europeu arrasado economicamente, introduziu o Estado do bem-estar social com uma economia mista, algo pensado por conservadores e liberais para evitar a influência do marxismo-leninismo.

Para que se tenha a noção da abrangência do termo socialismo, este foi incorporado ao partido nazista alemão. O nome não abreviado do partido liderado por Hitler era Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. E, embora seja verdade que pressupostos marxistas estejam presentes no programa de governo do partido alemão, a classificação mais correta da ideologia por detrás do regime hitlerista seria o nacionalismo e não o marxismo. Por isso então decidi utilizar marxismo ao invés de socialismo, contudo faço uma ressalva: todos os partidos intitulados de esquerda no Brasil são marxistas. Na maioria de suas sedes é possível ver os retratos de Marx e Lenin pendurados na parede (faça uma visita e confirme) [4].

Mediante o que foi dito acima, toda crítica feita ao marxismo pode ser entendida como uma crítica à ideologia dos partidos que compõem a esquerda brasileira e que possuem os termos socialista ou comunista em seus nomes. Os apontamentos feitos serão teóricos, mas como toda teoria redunda na prática, caberá ao leitor fazer a devida análise do que aqui será denunciado como anticristão e comparar com as bandeiras levantadas pelos esquerdistas.

3. O Marxismo como uma Religião Herética

Como dito no começo do texto, o marxismo tem características de religião. Uma religião secularizada - é bem verdade - pois tem sua base no materialismo. Marx era estudioso e admirador do materialismo de Epicuro [5]. Este filósofo grego acreditava que o mundo era composto de átomos que do vazio (espaço) se movem verticalmente para baixo. É o desvio do movimento dos átomos que dá origem as coisas. O homem, fruto desse desvio, é um combinado de átomos pesados e leves, que formam respectivamente o corpo e a alma. Os epicuristas entendiam que a alma é mortal e não eterna, uma vez que todo composto atômico é dissolúvel.

Epicuro rejeitava a ideia da eternidade dos corpos celestes, e pretendia livrar os homens das amarras da superstição religiosa. Embora não seja um determinismo, pois o desvio dos átomos aponta para uma gama de possibilidades não determinadas, o atomismo epicureu mantém as suas bases mecanicistas, sendo o homem e toda realidade material fruto da casualidade do movimento atômico. O jovem Marx manteve essa base ontológica para fundamentar o seu materialismo histórico. André Bieler esclarece assim o conceito materialista marxiano: "[...] conforme as suas concepções, é o material que precede e determina o espiritual, e não o contrário, como o ensina a ética cristã" [6].

Se nós somos cristãos e temos os nossos pressupostos baseados na Escritura, logo, não podemos abraçar uma doutrina concorrente ao cristianismo. Ainda mais quando esta corrente enxerga a religião, ou melhor, a metafísica como sendo um produto da opressão, uma vez que os oprimidos a inventaram como um entorpecente que alivia a dor (ópio). A doutrina cristã não foi fabricada. Ela é a revelação de Deus por meio do seu Filho, trazendo boas novas de salvação. Não que ela negue que existam opressores e oprimidos, essa realidade existe e se lermos os profetas, os evangelhos e as cartas apostólicas, veremos que Deus está sempre do lado dos pobres quando os ricos não agem corretamente e tolhem a justiça, devido a sua ganância [7]. Mas isto é muito diferente do que almeja o marxismo.

Marx, junto com Engels, criou uma soteriologia ao anunciar o fim da opressão quando o proletariado se rebelar contra a burguesia e tomar o poder político e econômico, controlando os modos de produção e a máquina estatal. É um enredo religioso-escatológico, pois a sociedade sem classes e sem miséria certamente chegaria (Marx tinha esperanças de ver isso ainda no séc. 19). A certeza deste mundo idílico é fruto de sua tese na luta de classes. Segundo Marx e Engels, toda a história se resume no conflito entre opressores e oprimidos, sendo que este segundo grupo, cansado da exploração acaba fazendo a revolução e subvertendo a ordem vigente. Logo, o governo do proletariado iria dar um basta no capitalismo burguês. O que os marxistas não esperavam é que o capitalismo aliado à democracia cativava mais os trabalhadores do que o ideal revolucionário.

Daí entendemos o porquê do Cristianismo sempre ser perseguido nos regimes marxistas. Primeiro: Para o cristão, as desigualdades e injustiças econômicas são fruto do pecado e o único capaz de curar esse mal é Jesus Cristo. Mas a promessa de um mundo sem dor e sem lágrimas está no porvir (Ap 21.4). Ora, isso frustra os marxistas que pregam o Reino dos Céus na terra, algo que não funcionará enquanto o pecado dominar o coração humano. Tanto as sugestões marxianas como as de qualquer outra ideologia que busque o fim da pobreza não serão bem-sucedidas neste mundo corrompido. Podemos ter uma agenda política que pregue uma melhor distribuição da riqueza nacional, ou o Estado do bem-estar social. Podemos criar programas de microcrédito e de transferência de renda. Podemos ver o incentivo estatal e privado na educação profissionalizante. Seja qual for, como observa Aaron Armstrong, "[...] essas soluções estão tratando os sintomas, não a causa; estão podando os galhos, não desenterrando a raiz. A questão principal por trás da pobreza é o pecado" [8]. Algumas dessas ideias podem até minorar muitos males, mas não acabarão definitivamente com a injustiça e opressão existentes na sociedade.

Segundo: Muitos marxistas colocaram a culpa do fracasso do prognóstico de Marx e Engels [9] nos fundamentos do Cristianismo. Para eles, não é conveniente concorrer com o messianismo cristão. Por isso que homens como Gramsci chegaram a afirmar que o melhor para se chegar ao comunismo (o reino escatológico marxista), necessário seria descristianizar a sociedade. A nova faceta do marxismo foi se infiltrar na cultura e na Academia, desconstruindo os valores e instituições tradicionais da burguesia, das quais se encontram não só o capitalismo, mas a família e a fé cristã [10]. Por isso que o relativismo moral está tão presente na fala e nas atitudes dos defensores do marxismo-leninismo. Se o Cristianismo é firmado em absolutos morais (os mandamentos), uma forma de lutar contra ele é relativizando os conceitos de certo e errado.

Chegamos à clara oposição do método de pensamento cristão e o marxista. O primeiro é antitético e o segundo, dialético [11]. A antítese funciona da seguinte maneira: Se A é verdadeiro, logo A não pode ser falso. Tendo duas alternativas, poderíamos ilustrar assim: A e B, se A é verdadeiro, logo B é falso. Já a síntese vai dizer que a verdade é parcial tanto em A quanto em B, desembocando numa terceira via: C. Não foram poucos os cristãos que caíram nessa rede e até buscaram sintetizar o Evangelho com os pressupostos marxianos, gerando assim uma heresia que tem dominado muitos círculos teológicos [12].

O "canto da seria" que encanta muitos cristãos que se afogaram em mares marxistas é o discurso da dignidade humana. Ora, este discurso coaduna com o que diz a Bíblia. No entanto, Marx tomou emprestado este conceito do cristianismo para engendrar um programa político que atingisse o seu objetivo escatológico. Mas como falar em dignidade humana se não há absolutos morais? Uma ideologia que desconsidera Deus, que assume uma ética relativista e fundamenta-se no materialismo não irá promover uma sociedade mais justa. Pelo contrário! A História serve como testemunha, ou será que precisam surgir outros Stalin’s ou Mao’s para que de uma vez por todas as pessoas enxerguem a face do mal e o abomine?

4. Para Encerrar o Assunto

Creio que mais nítido do que isto não poderia escrever. O marxismo é, como diria Schaeffer, uma heresia cristã; e como tal não pode ser abraçada por quem ama o Evangelho e se pauta no princípio do Sola Scriptura. Na verdade, toda a ideologia acaba sendo idólatra, pois tem o humanismo por fundamento e deifica algum elemento da criação, depositando nele a salvação. Koyzis salienta:
"Assim, cada uma das ideologias tem base numa soteriologia específica, isto é, numa teoria elaborada que promete aos seres humanos o livramento de algum mal fundamental visto como a fonte de uma ampla gama de problemas humanos, entre os quais a tirania, a opressão, a anarquia, a pobreza e assim por diante" [13].
Logo, nenhum cristão deve se identificar com ideologia X ou Y e a ela jurar lealdade. Recentemente vi alguém dizer numa rede social que o capitalismo é de Deus. Claro que não! O liberalismo do início da Revolução Industrial produziu muitas injustiças e feriu a dignidade humana em muitos aspectos. Mas Deus sempre levanta seus profetas para denunciar aquilo que está em desacordo com seus princípios e levanta homens dispostos para trabalhar no socorro dos necessitados. Os irmãos Wesley, apenas para citar um exemplo, fizeram um belo trabalho com os proletários em Londres. Há diversas demandas do capitalismo (liberalismo) que ferem a ordem da criação [14], dando ao homem uma autonomia que ele nunca possuiu.

Sei que muitos de meus irmãos em Cristo que flertam com as ideias marxianas, fazem isso por ingenuidade ou idealismo - o caso dos mais jovens. Tal inocência é resultado da omissão da Igreja em falar sobre política e se posicionar. Uma visão pietista fez o cristianismo recuar na esfera pública e o marxismo-cultural foi ganhando o espaço que encontrou vazio. Quando nossos jovens vão para as universidades, os professores marxistas fazem de tudo para convertê-los a sua cosmovisão. Não são neutros. Logo, a Igreja deveria abandonar a postura da neutralidade e denunciar a inconsistência desta religião idólatra concorrente da Fé Cristã. Oremos para que Deus erga homens corajosos e capacitados para ensinar e fazer política, firmados no crivo bíblico, dando glórias ao SENHOR.

terça-feira, 30 de maio de 2017

O conservadorismo tenta preservar o válido com instrumentos tangíveis*


"Era uma vez..." faz parte das histórias infantis. Mas o que acontece em política quando essa nostalgia de infância sequestra os melhores espíritos?

Esse é o tema do mais importante livro que li até ao momento neste ano. Foi escrito por Mark Lilla e o título é "The Shipwrecked Mind", qualquer coisa como "a mente naufragada".

Mark Lilla é, como dizem os portugueses, "muito lá de casa". O seu "The Reckless Mind", nunca editado no Brasil, é uma análise brilhante sobre o namoro grotesco dos intelectuais com o totalitarismo.

O seu "The Stillborn God", igualmente por editar, é um dos melhores tratados recentes sobre "a grande separação": a forma como política e religião disseram adeus nos alvores da modernidade, permitindo a emergência do Estado secular moderno (e democrático).

E os ensaios de Lilla no "The New York Review of Books" são provavelmente a principal razão por que continuo a ler o jornal.

Mas "The Shipwrecked Mind" é um livro superior, apesar de breve, porque oferece uma chave de leitura sofisticada para entender o pensamento reacionário.

Escreve Lilla que o pensamento revolucionário sempre teve os seus exegetas. Mas a "reação" sempre foi desprezada pelos eruditos.

Um erro. O apelo do "era uma vez..." é hoje mais forte do que nunca. Não apenas porque encontramos várias expressões reacionárias na política moderna - do islã à Europa, sem esquecer os Estados Unidos - mas porque existe uma superioridade teórica da reação sobre a revolução. O revolucionário pode desiludir as esperanças dos crentes. O reacionário, nunca. A nostalgia, escreve Lilla, é irrefutável.

Eis a essência do pensamento reacionário: a crença de que exista um passado - próximo ou distante, pouco importa - em que as misérias do presente (pobreza, insegurança, competição etc.) não existiam.

Isso é válido para políticos como Donald Trump ou Marine Le Pen; mas a grande originalidade de Lilla está em mostrar como a nostalgia do "era uma vez..." formou e deformou vários pensadores "conservadores". Nomes grandes, como Leo Strauss, ou bem pequenos, como Éric Zemmour, sempre procuraram no passado o paraíso perdido - e, no presente, o paraíso reencontrado.

Todos eles comungam essa "mente naufragada": a consciência aguda de que, algures na história, o reto caminho se perdeu. Radicalmente nostálgicos, eles são incapazes de pensar a modernidade, exceto para a condenar. Como Dom Quixote, eles lutam perpetuamente contra "a natureza do tempo".

Citei Dom Quixote porque as melhores páginas do livro pertencem a ele. O Cavaleiro da Triste Figura é o reacionário "par excellence": enlouquecido pelos romances de cavalaria, ele veste a armadura e empunha as armas porque não compreende que o passado é passado.

Dom Quixote é um homem sem ironia. Porque só a ironia - "a armadura dos lúcidos", na feliz expressão de Lilla - permite aos homens acomodar o abismo entre o real e o ideal; entre o que existe e o que deveria existir.

Nos últimos meses, tenho recebido vários e-mails de indignação e repulsa. Motivo? Minhas condenações de Trump ou Le Pen. Como é possível, perguntam os meus ex-leitores, ser conservador e não tolerar essas duas tristes figuras?

Clique AQUI e leia
este livro na íntegra.
Alguns, com ironia, exigem a devolução do dinheiro que pagaram pelo meu livro "As Ideias Conservadoras". Curiosamente, nenhum deles leu o subtítulo: "Explicadas a Revolucionários e Reacionários".

Não há nada de conservador em Trump ou Le Pen. Ambos são exemplos vivos da "mente naufragada". Ambos defendem um passado - de proteção econômica, fechamento nacional e isolamento internacional - que nunca existiu como modelo de perfeição.

São reacionários porque incapazes de pensar os problemas do presente sem recorrer ao "era uma vez..." que é típico de crianças, não de adultos.

O conservadorismo é uma ideologia de imperfeição humana, não de arrogância epistemológica. É uma ideologia que procura preservar o que é válido no presente recorrendo aos instrumentos tangíveis desse presente - e não a fantasias sobre o passado.

Perdi leitores, mas é provável que alguns tenham ficado no barco. Bem-vindos. Até porque a "mente naufragada" está, ela própria, condenada ao naufrágio.

Revelações de um Presidente*

Alexandre Garcia entrevista João Figueiredo
TV Manchete, 23 jan. 1985
Por Ana Mônica Jaremenko*

Tem circulado das redes sociais trechos de uma entrevista do então Presidente João Figueiredo (1985) ao jornalista Alexandre Garcia, ainda na extinta TV Manchete.

Com uma nova perspectiva, encontro nesse vídeo um resgate de uma parte da História do Brasil que tem sido deturpada pelas mídias e pelas escolas. Enxergo nessa entrevista um homem preocupado com o Brasil, com a ética na política, com a democracia, com a verdade.

Para evitar dúbias interpretações, haja vista "texto fora de contexto pode virar pretexto", resolvi publicar o vídeo na íntegra. Assim, quem resolver assistir poderá tirar suas próprias conclusões.

Alexandre Garcia entrevista João Figueiredo
TV Manchete, 23 jan. 1985.
Clique na imagem e assista ao vídeo.

* Eu sou Ana Mônica Jaremenko, escritora (poeta e cronista), ativista política, blogueira, gestora de mídias sociais e corretora de imóveis. Administradora, dentre outros, do blog Simplesmente FedoraFedora é meu heterônimo para assuntos políticos.

Graça e paz!

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Os jacobinos da “nova direita”*

Por Bruno Garschagen*

“O Brasil está dividido” é o mantra dito e repetido desde a eleição presidencial de 2014, aquela que submergiu o país no dilema marxista: a farsa ou a tragédia. Será verdade? A minha resposta é longa e repleta de argumentos irrefutáveis: não.

O país não está dividido em termos ideológicos, pelo contrário. O país encontra-se ideologicamente fragmentado. Há os socialistas, há os antissocialistas e há um grupo cada vez mais numeroso que, mesmo que combata o socialismo, não se limita a essas duas categorias políticas (conservadores, liberais, libertários). O problema é a estridência com que ambos (socialistas e antissocialistas) trocam afagos e carícias. O ruído que provocam dão a impressão de que são maioria. Em termos numéricos, contudo, são campeões da estupidez e da degradação de que são frutos e operários.

Por terem despertado para a política num momento de turbilhão de salitre e breu petista (obrigado, William Blake), os antissocialistas foram treinados pela própria esquerda. Por isso, reagem reproduzindo vocabulário, comportamentos, maneirismos, insultos e a mentalidade daqueles que acusam de serem inimigos. E posicionam-se contrários a qualquer tema que a esquerda converta em pauta. Se o socialista é favorável, o antissocialista é contra. Um exemplo? Cuidar do meio ambiente é tolice porque coisa de esquerdista.

Os antissocialistas insurgem-se contra os socialistas como opositores úteis, como contrários que se complementam. Há, de fato, aquilo que René Girard definiu como desejo mimético (desejo de imitação). Na ânsia de conquistar os espaços de poder hoje ocupados pelos inimigos, colaboram para instaurar a rivalidade e a violência que dizem combater. Não defendo que se combata com flores quem usa tanques de guerra, com carinho quem agride. Defendo que a reação seja vigorosa e virtuosa – sem um vício de origem que a macule. É, sim, possível, só que exige mais labor e inteligência.

O próprio mote do “nós contra eles”, bordão de dissociação extraído do texto A Nossa Moral e a Deles, de Leon Trotsky, foi estabelecido na discussão política pelo PT desde o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva e depois assimilado e transformado em hino de guerra pelos antissocialistas. Ambos os lados politizam a vida em sociedade, um por ideologia, outro por imitação, e pretendem purificar a sociedade dos adversários na busca por um mundo idealizado.

Um ponto em comum partilhado por socialistas e antissocialistas pode ser rastreado na mentalidade milenarista encontrada no século 13. O milenarismo fundamentava-se na crença segundo a qual era perfeitamente possível a um indivíduo ou a uma elite (terrena e/ou sobrenatural) instituir tão logo e repentinamente um futuro hipotético e perfeito sobre a terra.

A estrutura de pensamento e de entendimento da natureza humana dos milenaristas forjou alguns dos alicerces intelectuais dos revolucionários modernos sobre concepção de mundo e de natureza humana. A experiência intelectual e histórica do milenarismo e da escatologia revolucionária, de que foi protagonista Joaquim de Fiore, foi aproveitada por vários filósofos (Lessing, Schelling, Fichte, Hegel, Comte, Marx) e incorporada a certas ideologias políticas (marxismo, nazismo, fascismo).

O filósofo político Eric Voegelin, em seu livro As Religiões Políticas, observou que o significado simbólico do apocalipse perdurava “no simbolismo dos séculos 19 e 20, nos três estágios da filosofia da história de Marx e Engels, no Terceiro Reich do nacional-socialismo, na Terceira Roma fascista”. Portanto, milenaristas, jacobinos, nazistas e fascistas seriam membros de uma mesma família político-ideológica.

E não só.

Quando os antissocialistas mimetizam a mentalidade e a ação política do inimigo, tornam-se o espelho da perfídia. Quando advogam a purificação do Brasil do socialismo usando os mesmos instrumentos dos socialistas, reduzem a virtude do combate necessário à estatura moral e ideológica de seus oponentes. Convertem-se, assim, nos novos milenaristas, nos jacobinos da “nova direita”.


sábado, 27 de maio de 2017

FUI ENGANADA! MENTIRAM PARA MIM!*

Por Ana Mônica Jaremenko*

de Vladimir Carvalho (1984).
Estou com muitas dores, no corpo e na cabeça. Então, resolvi ficar quietinha no sofá. Aos sábados, a programação das TV's é horrível. Sem saída, mudando de canal, parei na TV Senado.

Qual não foi minha surpresa ao constatar que estava sendo exibido o filme "O evangelho segundo Teotônio Vilela", de 1984, dirigido por Vladimir Carvalho.

Qual não foi minha surpresa maior ao descobrir que FUI ENGANADA até agora! Que MENTIRAM PARA MIM, eu que me acho tão antenada!

Começo a assistir ao filme no ponto em que Teotônio Vilela está dando um depoimento, ao lado de Fernando Henrique Cardoso e de Lula, justamente no momento em que ele fala para se organizar SAQUES, VIOLÊNCIA URBANA, GREVES, REVOLUÇÃO (tempo no filme: a partir de 55:32). Para quem quiser assistir ao filme e tirar suas próprias conclusões, é só clicar AQUI.

Estou de queixo caído! TEOTÔNIO VILELA, aquele que eu considerava ser o "Herói das Diretas Já 1983" na VERDADE era COMUNISTA!

As lições que tiro dessa experiência:

1- que ainda tenho muito que aprender;
2- temos que reler a História do ️Brasil, ler nas entrelinhas e contar a VERDADE a esta e às futuras gerações.

de Vladimir Carvalho (1984).

#EuSouConservadora
#EuSouAnticomunista
#LendoNasEntrelinhas


* Eu sou Ana Mônica Jaremenko, escritora (poeta e cronista), ativista política, blogueira, gestora de mídias sociais e corretora de imóveis. Administradora, dentre outros, do blog Simplesmente FedoraFedora é meu heterônimo para assuntos políticos.

Graça e paz!

A Lava Jato deve ser protegida de seus inimigos: de dentro ou de fora*

Por Lucas Berlanza*

Caos, contestações, tramoias, terrorismo – concreto ou midiático, configurado pelo tiroteio das narrativas e das linhas editoriais. Vivemos tempos difíceis e potencialmente sombrios. Nos dias que correm, cujo peso e cuja tensão constantes sentimos todos que nos manifestamos e acompanhamos os acontecimentos, é natural que as distorções e os temores nos dividam, nos confundam, nos mergulhem em conflitos e divergências de interpretação, ainda que tenhamos visões de mundo ou concepções sócio-políticas similares, e visemos a um mesmo fim.

Verdadeiras guerrilhas de esquerda, insufladas pelo terrorismo de Guilherme Boulos, atacaram Brasília provocando incêndio e depredação, sob o pretexto de reivindicar o irresponsável fim das reformas e, também, a queda de Temer. O governo federal se obrigou a convocar as Forças Armadas para reprimir a baderna e o assalto desse exército do caos e do atraso, parasitas financiados pelas verbas do imposto sindical.

Condeno, evidentemente, esses socialistas infames em sua loucura criminosa. Também não concordo com casuísmos ao arrepio da Constituição. Considero cúmplices da sandice todos que se indignam falsamente com a ação das nossas Armas para proteger a ordem. Ainda assim, sustentei, e continuo sustentando, com base em princípios, apesar do turbilhão, a correção e moralidade da saída de Michel Temer – presidente flagrado em conduta antirrepublicana. Ao fazê-lo, houve quem me dissesse que me “cobrará” as consequências disso, como se este pobre plebeu a escrever algumas linhas sobre os dramas que nos acometem fosse o responsável por trazer o Brasil a esta situação.

Minha consciência me diz que é essa a posição a tomar, que não posso negociar minha credibilidade e mentir à minha razão por qualquer que seja o motivo. Se errado estou, ora bolas, não serei o primeiro; é viável esperar que nós, em momentos de aguda crise histórica, estejamos sempre fazendo uso do correto discernimento, sempre à altura da decisão que será melhor lida à luz da perspectiva histórica? Somos, cada um de nós, pequenos e falíveis demais para isso. Ainda me prefiro guiar pelos ditames da minha convicção ética.

De todo modo, a despeito de considerar Temer culpado, não vejo que disso provenha a consagração absoluta de todos os atos de Rodrigo Janot, do ministro relator Edson Fachin ou dos procuradores de Brasília. O outro fato gravíssimo da semana foi a divulgação dos áudios com a conversa do jornalista da Veja (que agora se demitiu) Reinaldo Azevedo e a irmã do senador Aécio Neves, sua fonte, que estava interceptada pelas investigações. O diálogo continha críticas do jornalista à revista para a qual trabalhava e denuncia o óbvio: suas simpatias tucanas, que justificam o viés recente de suas publicações. Absolutamente, porém, não se constata qualquer crime ou ilegalidade no seu teor.

Associações de imprensa e a OAB se manifestaram em sua defesa, a Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal trataram de emitir notas para “se defender” das suspeitas de que o alastramento desse conteúdo se tenha devido a algum tipo de manobra de intimidação política, pelas críticas que Azevedo fazia à Operação Lava Jato. Não sei quem foram os responsáveis e também acho secundárias análises de tecnicismo jurídico; simplesmente uma situação como essa não é normal ou aceitável. Independentemente mesmo do fato de sermos jornalistas, se por acaso, suponhamos estivermos em conversa com alguém investigado e dissermos intimidades nada ilegais, uma eventual investigação do interlocutor justificará nos expor dessa forma? Hoje, Azevedo é a vítima. Amanhã pode ser qualquer outro.

Somando-se isso aos incômodos benefícios obtidos pelos irmãos Batista na delação da JBS e à alegação de que a PGR não levou a efeito toda a averiguação necessária do ponto de vista técnico ao admitir o (ainda assim moral e politicamente condenável, e não isolado, se incluirmos os rastreamentos e documentos que se lhe somam) áudio de Temer e Joesley, cria-se, no âmbito da Lava Jato em Brasília, uma aura de suspeita quanto, quer à isenção total, quer à competência dos seus agentes condutores.

Seja como for que nossa sensibilidade nos encaminhe nesse turbilhão, enquanto as devidas apurações se fazem e a atmosfera política se adensa de maneira cada vez mais intolerável, acredito que um fator nos deve unir: a Lava Jato e o que ela representa. Nossas lideranças políticas, encasteladas nos mais diversos partidos, dos próceres totalitários e medonhos de Lula aos oligarcas sub-reptícios do PMDB e os falsos “bons moços” do PSDB, têm interesse em adulterá-la e travá-la, de fora. Se, de dentro, parte dela se inebriar em sua imperatividade e grandeza e oferecer tropeços ou más intenções que possam fortalecer as narrativas dos que a querem eliminar – a despeito de estarmos falando neste momento de Brasília e não de Curitiba, de Janot/Fachin e não Moro/Dallangnol -, tanto pior para toda a gente de bem. Incompetentes ou mal-intencionados, os responsáveis serão, de dentro, também seus inimigos.

As torpezas presentes em todos os poderes, inclusive no Judiciário, não se podem impor sobre a efetivação da justiça sem precedentes que se aplica no país, aproveitando-se das confusões e divisões do momento, para o bem do Brasil. A Lava Jato deve triunfar sobre seus inimigos – sejam eles de dentro ou de fora.

O Brasil precisa das reformas*

Por Roberto Freire*

Roberto Freire
Justamente no momento em que o Brasil dava os primeiros sinais de que começa a sair da recessão econômica imposta pelo desmantelo dos governos lulopetistas nos últimos 13 anos, o país foi atingido por mais um grave abalo político que provoca incertezas em relação ao nosso futuro mais imediato. Cabe àqueles que têm responsabilidade, espírito público e compromisso com a democracia e as instituições trabalharem com afinco para que sejam preservadas as reformas fundamentais para a superação definitiva da crise, especialmente as mudanças na legislação trabalhista e na Previdência.

Apesar de todas as dificuldades, o Brasil vem avançando de forma significativa desde que o governo de transição se estabeleceu constitucionalmente, após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Em pouco mais de um ano, foram aprovadas medidas necessárias como a PEC do Teto dos Gastos Públicos, a MP do setor elétrico, o projeto que desobriga a Petrobras a participar de todos os consórcios de exploração do pré-sal, a Lei de Governança das Estatais, a liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), apenas para citar algumas delas.

Nesse diapasão, as propostas de reformas trabalhista e previdenciária, em andamento no Congresso Nacional, são essenciais para a consolidação da recuperação do país e, sobretudo, para que o Brasil sinalize aos agentes econômicos que está preparado para ter um avanço sólido, duradouro e sustentável. Só conseguiremos combater o desemprego, que hoje atinge cerca de 14 milhões de brasileiros, se modernizarmos as relações de trabalho e reduzirmos o rombo na Previdência que ameaça a aposentadoria de milhões de cidadãos.

Independentemente do desfecho da grave crise que o Brasil enfrenta neste momento – e cuja solução deve ser construída estritamente a partir da obediência ao texto constitucional, sem atalhos ou distorções –, é primordial que as forças políticas que apoiaram o impeachment e sustentam o governo de transição até 2018 se unam em torno da necessidade de aprovação das reformas para que as conquistas obtidas até agora no campo econômico não sejam ameaçadas. Depois de amargarmos o desastre promovido por Lula e Dilma nessa área, é evidente que o país começou a trilhar um caminho de recuperação – do qual não pode se afastar em hipótese alguma, aos sabores das intempéries políticas, sob pena de experimentarmos um retrocesso de proporções inimagináveis para a população brasileira.

Para que se tenha uma ideia do quanto a seriedade na condução da política econômica do atual governo nos levou a um outro patamar, oferecendo ao país a perspectiva de um futuro virtuoso, a última edição do Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, indica uma estimativa de inflação de apenas 3,92% (ante 3,93% da semana anterior, o que significa a 11ª redução consecutiva do indicador). Trata-se de um percentual bem menor que o centro da meta estipulada pelo governo (4,5%), uma realidade absolutamente distante do caos vivenciado durante a gestão petista e que abre caminho, inclusive, para uma redução mais acelerada da taxa básica de juros.

Já a prévia da inflação oficial, segundo o IBGE, alcançou 0,24% em maio, a menor taxa para o mês nos últimos 17 anos. O acumulado dos últimos 12 meses ficou em 1,46%, ante 4,21% registrados no mesmo período do ano passado. Outra boa notícia é que a projeção do mercado financeiro para o crescimento do PIB se mantém estável em 0,5% para este ano de 2017, após três anos seguidos de retração.

O Brasil só terá condições de concluir a travessia democrática e constitucional até as eleições de 2018 se mantivermos de pé a agenda de reformas e continuarmos promovendo as mudanças necessárias para que o país siga nos trilhos do desenvolvimento. O momento é delicado, a crise é grave e o impasse político precisa ser resolvido rapidamente, sempre de acordo com a Constituição e sem atropelos. Mas o Congresso não pode parar e tem a responsabilidade de levar adiante a agenda modernizadora proposta pelo governo de transição. Dela dependem o futuro de milhões de brasileiros e a retomada da nossa economia.

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Não é hora de uma nova Constituinte*

Por Roberto Dias*

Roberto Dias
Em momentos importantes da vida institucional brasileira, o poder constituinte originário se manifestou para romper com a ordem então vigente. Isso se deu tanto para instituir regimes arbitrários como para viabilizar o surgimento de períodos democráticos.

Basta lembrar os movimentos constituintes que geraram, por um lado, as cartas autoritárias do Estado Novo (1937) e do regime militar (1967) e, por outro, as constituições de 1946 e de 1988.

De tempos em tempos surgem propostas para a convocação de uma Constituinte. Alguns sugerem a elaboração de uma nova Constituição por completo, como defendido recentemente por Modesto Carvalhosa, Flávio Bierrenbach e José Carlos Dias. Outros, de forma mais contida, sugerem uma Constituinte restrita a certas matérias.

Este último caminho foi sustentado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1998, ao propor uma maneira mais rápida de aprovar as reformas tributária, política e do Poder Judiciário.

Em 2006, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se mostrou simpático à tese, mas para discutir apenas a reforma política.

E Marina Silva, em 2010, aventou algumas reformas, dentre elas a previdenciária, quando era candidata do PV à Presidência da República.

Eram tentativas - que não foram adiante - de facilitar o processo de alteração da Constituição sobre temas polêmicos, que geravam, como ainda geram, muito dissenso.

A questão é saber se devemos, num período como o atual - de grave crise econômica, acentuada radicalização política, gradual erosão de direitos e escandalosos desvios éticos -, partir para a ruptura de uma Constituição que, apesar de seus defeitos, tem permitido ao Brasil resistir a estocadas mais agressivas.

É o caso de, num cenário como este, convocar uma Constituinte que não estaria atrelada às amarras hoje em vigor? Que não precisaria, por exemplo, respeitar as cláusulas pétreas, como os atuais direitos e garantias fundamentais? A minha resposta é "não".

Não é a hora de descartar a Constituição. Reformas, como sempre, poderão ocorrer, desde que haja respeito às regras do jogo, consenso ampliado sobre os pontos em discussão e obediência às cláusulas pétreas.

A impossibilidade de abolir essas cláusulas e a exigência de aprovação de emendas pelo quorum de 3/5 têm por finalidade proteger o núcleo de nosso Estado democrático de Direito da irracionalidade de maiorias eventuais formadas em momentos de crise.

São garantias de que não impediremos que as próximas gerações tenham o direito de viver em democracia. O melhor caminho não é o da ruptura desse dique.

Nesses quase 30 anos de vigência, a Constituição foi capaz de se atualizar. Foram 95 emendas. Em média, mais de três reformas por ano. Apesar das frequentes mudanças, o texto constitucional atual tem resistido a corrosões de sua essência.

Enfim, é possível fazer reformas incrementais com segurança, sem lançar mão de mecanismos facilitadores da mudança, como a convocação de uma Constituinte exclusiva, ou geradores de profundas incertezas, como a instalação de uma Constituinte ampla.

A abertura de um processo assim neste momento solaparia o que nos resta de segurança institucional, ampliando a polarização, os conflitos e as instabilidades, além de colocar em risco os avanços no campo das liberdades e mesmo da autonomia das instituições.

O pior é que nada no quadro atual indica que faríamos uma Constituição melhor do que a que temos.

O planeta dos malandros*

Por Ives Gandra da Silva Martins*

Ives Gandra da Silva Martins
Charge da página 2 da Folha de São Paulo, no dia 28 de abril, intitulada “O planeta dos malandros”, mostrava uma carteira profissional, em parte afundada na areia, com um grupo de pessoas aproximando-se, carregando placas favoráveis à greve. Não fosse pelo título a charge poder-se-ia assemelhar ao final do primeiro filme “O planeta dos macacos”, quando Charlton Heston vê a Estátua da Liberdade semienterrada na areia e grita “conseguiram, conseguiram”.

Analisando o movimento das centrais de sindicatos que levou um pequeno número de pessoas às ruas - a maior parte delas com atitudes antidemocráticas ou de vandalismo, o que impediu a esmagadora maioria da população de exercer o sagrado direito assegurado pelo inciso XV do art. 5º da Constituição de ir e vir livremente – a greve não foi o sucesso que esperavam seus organizadores, que escolheram a véspera de um feriado para estimular adesão daqueles que gostariam de desfrutá-lo mais prolongadamente.

Fosse um sucesso, como foram as manifestações públicas de 2015 e 2016, em que o povo rebelou-se contra os governantes e NÃO PRECISOU DE VIOLÊNCIA PARA IMPOR-SE, teriam adotado a mesma atitude democrática de protesto daqueles milhões de pessoas que foram às ruas.

As cenas de TV mostraram tais aspirantes de ditadores, em número reduzido, queimando pneus para impedir empregados de trabalharem, destruindo bens alheios, mascarados, como quaisquer facínoras, para não serem reconhecidos, ou queimando ônibus, numa demonstração de que todos estes cidadãos não estão preparados para viver num país democrático. Não são democratas, mas apenas baderneiros ou defensores de privilégios próprios, mais do que de direitos de terceiros.

Creio que a grande maioria dos poucos que participaram das manifestações, em nada semelhante às duas grandes manifestações de 2015 e 2016, sequer conhece o que estava defendendo. Não podem estar querendo que aposentadorias sejam pagas para pessoas de pouco mais de 50 anos, muito embora não haja como fechar as contas previdenciárias com os déficits bilionários que o sistema atual gera. É de se lembrar a elevada carga tributária do Brasil, que supera a dos Estados Unidos, Japão, Coréia do Sul, Suíça, México, China e da maior parte dos países desenvolvidos e emergentes, sem contrapartida em serviços. Defendem o indefensável, embora seus estimuladores não ignorem que somente com mais tributos, mais juros, maior endividamento, mais desemprego, além de poucos investimentos e nenhum desenvolvimento pode-se manter tão esdrúxulo sistema.

Sempre tenho dito que a ignorância é a homenagem que a estupidez presta ao populismo.

O fracasso real dos governos anteriores mostra a necessidade de duas reformas essenciais, como primeiro passo para o Brasil sair da crise, ou seja, as reformas trabalhista e previdenciária. Caso contrário, estaremos a caminho do mesmo desastre protagonizado pelo governo Maduro, tão prestigiado pelos governos anteriores.

“Alea jacta esto”. Creio seja esta a melhor forma, pois do imperativo deve ter Júlio César se utilizado, ao dizer a famosa frase; não do indicativo “alea jacta est”. “Lançada a sorte”, vejamos se o Brasil está realmente a caminho da democracia que todos desejamos ou se Roberto Campos, cujo centenário comemorou-se em 17 de abril deste ano, tinha razão ao dizer que, com esta mentalidade, o Brasil não corre nenhum risco de melhorar.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

O que há de errado com as Universidades hoje em dia? Isso pode ser solucionado?*


As faculdades e universidades de hoje tornaram-se centros de doutrinação política de alto custo. Trata-se de um sistema único na histórica do homem, em que aqueles que são doutrinados e mal treinados para o mundo real têm de pagar a seus doutrinadores, seja gastando as economias de suas famílias, seja obtendo empréstimos subsidiados pelo governo. Para assegurar que a doutrinação não desvie muito da linha do politicamente correto, professores e administradores erigiram um sistema de controle, a fim de garantir que somente aqueles que aceitam o “pensamento de grupo” a respeito de injustiças raciais, étnicas, ambientais e econômicas sejam autorizados a ensinar.

Esse sistema de controle começa com quem logra ser admitido na graduação, quais temas de dissertação são aprovados, quem é contratado para o professorado, quem se titulariza e, mais tarde, para alguns poucos escolhidos, quem consegue tornar-se administradores de alta remuneração. Então, apenas para se certificar de que não há falhas no sistema, os professores organizam programas de estudos de gênero e estudos étnicos, para que possam mobilizar os ativistas do campus a atacar quaisquer desertores em suas fileiras. Como outro resguardo para esta gaiola de ferro, burocratas federais impõem e interpretam uma série de regulamentos sobre faculdades e universidades. O Título IX provou ser uma ferramenta eficaz para rachar a dominação masculina sobre os esportes nas universidades e até mesmo um instrumento melhor para forçar o pensamento de grupo no campus.

A “Novilíngua” do Big Brother de George Orwell parece rústica em comparação com a atual compreensão do que seja “liberdade acadêmica”, “comunidade de estudiosos”, “justiça social” e “zonas de liberdade de expressão”.

A “Liberdade Acadêmica” Orwelliana

Por toda a América, as universidades e faculdades estão criando “zonas de liberdade de expressão” e restringindo a liberdade de expressão. Costumava haver uma “zona de liberdade de expressão” chamada América, mas não mais nos campi universitários. Em vez de permitir que professores e alunos manifestem-se livremente na sala de aula ou no campus, os administradores universitários têm adotado políticas para restringir a liberdade de expressão. Evidentemente, o “discurso de ódio” é restringido. A zona pode permitir que um pregador evangélico fale sobre pecado e a Bíblia (cercado por estudantes zombeteiros, na maioria dos casos), mas o discurso que possa ofender estudantes pertencentes a minorias, estudantes muçulmanos, mulheres ou outros grupos favorecidos é realmente proibido. Na sala de aula, o corpo docente fala continuamente sobre política de identidade, sobre como homens brancos e privilegiados oprimem as minorias raciais, sobre como cometeram genocídio contra os nativos americanos, escravizam os africanos, mantiveram as mulheres em suas casas e criaram, sistemas políticos, como a democracia americana, para manter o privilégio branco. Esse tipo de discurso é aceitável e, de fato, encorajado.

O que eles não podem falar, sem ser extraordinariamente cuidadosos, é qualquer coisa que pareça culpar a vítima. Isto significa que os professores têm de caminhar cuidadosamente sobre assuntos relativos a questões raciais, de gênero ou religiosas. Se esses tópicos são levantados em uma “zona de liberdade de expressão” ou na sala de aula, tanto os professores quanto os alunos têm de prefaciar suas observações com uma miríade de qualificações, mostrando que compreendem a complexidade destas questões.

No entanto, a restrição sobre o discurso vai além de apenas pensar duas vezes sobre o que poderia ser dito. A palavra-chave hoje é “micro-agressão”. A fala, a linguagem corporal ou o tom podem ser tomados como “micro-agressão” se um aluno sensível a vê como tal. A presidente do sistema da Universidade da Califórnia, Janet Napolitano, de fato publicou exemplos em seu site do que pode ser considerado comportamento micro-agressivo (http://www.thecollegefix.com/post/22839). Incluídos nos exemplos de linguagem agressiva estão expressões como “Terra de Oportunidade” ou “Ação Afirmativa é racista”. Outros comentários proibidos são: “Todos podem ter sucesso nesta sociedade, se trabalharem duro o suficiente”; “De onde você é?” ou “Onde você nasceu?”; e “Quando eu olho para você, eu não vejo cor”.

Cometer uma micro-agressão é racismo subconsciente, sexismo, privilégio masculino branco, xenofobia e homofobia. As diretrizes supõem que o comportamento “micro-agressivo” pode ser bem-intencionado. Dizer a estudantes do sexo feminino ou negros que, se eles trabalharem duro, podem ter sucesso, sugere que as mulheres e negros que não lograram sucesso carecem de ambição ou são preguiçosos. A lição deve ser que as mulheres que não quebraram o “teto de vidro” ou negros que vivem na pobreza devem culpar as profundas complexidades do racismo, sexismo, hegemonia cultural e privilégio masculino branco, historicamente e hoje.

Para garantir que o corpo docente tenha entendido a mensagem, o sistema da Universidade da Califórnia (UC) organizou sistemas de treinamento de líderes dos docentes ao longo do ano acadêmico de 2014-15 em todos os nove campi da UC. As sessões foram destinadas a ensinar professores sobre como evitar ofender estudantes e colegas, e dedicaram tempo a explicar como contratar um professorado mais diversificado. A suposição é de que discentes de cor e mulheres serão mais sensíveis, porque têm experimentado formas ostensivas e sutis de opressão.

Em seu romance “1984”, o “Big Brother” de George Orwell usa o medo da tortura para quebrantar os pensamentos subversivos de Winston Smith. A “Big Sister” de 2015 não usa tortura física para impor conformidade acadêmica, embora se suspeite que essas sessões de treinamento sobre “micro-agressão” devam ter sido torturantes demais para aguentar. Não se viu nenhuma preocupação quanto à imposição macro-agressiva da administração de uma Universidade custeada com recursos públicos restringindo manifestações comuns de membros do corpo docente.

Devorando os seus?

Laura Kipnis, feminista docente da Northwestern University, em Illinois, chamou a atenção da mídia nacional (americana) quando foi atacada por estudantes de sua universidade por um ensaio que escreveu para a Crônica da Educação Superior, em fevereiro de 2015. Seu ensaio, “A Paranoia Sexual Atinge a Academia” (Sexual Paranoia Strikes Academe), de linguagem extravagante destinada a despertar emoção, defendia professores que namoram estudantes de graduação e pós-graduação. Ela declarou que, quando era estudante, “O abismo entre estudantes e professores não era um fosso cheio de tubarões; um passo em falso não era fatal. Fazíamos festa juntos, bebíamos e ficávamos embriagados juntos, dormíamos juntos. Os professores podiam ser mais velhos e mais realizados, mas você não sentia que poderiam tirar proveito de você por causa disso. Como fariam isso?” Ela objetou que a “paranoia sexual” estava perseguindo a vida universitária, e que abominava isso.

Códigos severos de conduta entre professor e alunos, ela argumentou, têm penetrado todos os aspectos da vida do campus — língua, currículo, discussão acadêmica e vida social. Espera-se que os professores alertem os alunos de que o que venham a ler ou ouvir numa palestra ou discussão em sala de aula pode ser perturbador. Para proteger a sensibilidade dos alunos, os professores são obrigados pelos administradores da universidade a emitir “trigger warnings” — ou “alertas” — sobre materiais dessa natureza. Estudantes aos quais se tenha atribuído a leitura do poeta latino Ovídio, por exemplo, precisam ser alertados de que leriam sobre romanos estuprando mulheres sabinas.

Kipnis mirou, particularmente, a utilização do Título IX para impor esses códigos de conduta. Pouco depois de a administração da Northwestern University emitir seu código de conduta de estudante e professor, o comitê de coordenação Título IX da universidade emitiu uma nova linguagem para esclarecer o código. “Todos recebemos um longo e-mail da comissão”, lembrou Kipnis. “O comitê estava respondendo a uma petição de estudante e governo que exigia que os ‘sobreviventes’ fossem informados sobre os resultados das investigações de assédio sexual”. Ela ressentiu-se particularmente com o uso repetido da palavra “sobrevivente”. “Não seria ‘acusador’ o termo apropriado? Como alguém pode ser acoimado de ‘sobrevivente’ antes do julgamento sobre a acusação — isto é, supondo-se que não queremos predeterminar a culpa do acusado”.

Seu ensaio foi destinado a ser inflamatório, e isso foi. Ela foi atacada em duas direções — protesto estudantil e queixa jurídica. Os manifestantes estudantis começaram a arrastar colchões em redor do campus, sugerindo que Kipnis queria transformar Northwestern em um bordel estudante-professor. O pior estava por vir, entretanto. A defesa de Kipnis de um professor de filosofia que tinha sido julgado não culpado de acusações de agressão sexual levou outros estudantes a apresentar uma queixa fulcrada no Título IX contra ela. Kipnis foi trazida perante um comitê universitário regido pelo Título IX. Não lhe foi permitido o patrocínio de advogado, o direito de chamar testemunhas em seu favor ou o direito de confrontar seus acusadores. As acusações foram descartadas, mas todo o processo cheirou a uma “star chamber”**. Até a progressista Michelle Goldberg, colunista cultural do “The Nation”, achou difícil defender as ações dos alunos. Goldberg concluiu: “A política de libertação ajusta-se incomodamente com a política de proteção”.

O que tornou o episódio tão doloroso para a esquerda foi que Kipnis era um deles. Ninguém duvidava de suas credenciais feministas. Em seu ensaio, ela pediu a castração química de estupradores e celebrou a revolução feminista no ensino superior. Sua defesa dos relacionamentos sexuais entre professores e alunos certamente não emanava de uma perspectiva moral conservadora.

Questões mais profundas: Custo, Qualidade

Enquanto alguns conservadores regozijavam-se com o fato de que a esquerda acadêmica devorava a si mesma, e progressistas preocupavam-se em apoiar ou não o professor feminista ou as ativistas feministas estudantes, as questões mais abrangentes com as quais os administradores e professores universitários deveriam se preocupar dizem respeito à qualidade da educação que as faculdades têm provido a um custo muito alto aos estudantes. O estudante universitário de hoje paga em média cerca de U$ 13.300 (treze mil e trezentos dólares) por ano em uma instituição pública que ofereça cursos de quatro anos. Isto é o dobro do que um estudante universitário pagava ($ 6.800 — seis mil e oitocentos dólares) em 1967. Os custos das faculdades privadas triplicaram durante o mesmo período. Este aumento levou a uma dívida estudantil de mais de U$ 1 trilhão (um trilhão de dólares), criando uma bolha que deveria causar preocupação nacional. O que os alunos estão alcançando, em virtude dessa educação, no mercado global? Não muito, parece.

Um estudo de 2015 realizado pelo Educational Testing Service — ETS (Serviço de Avaliação Educacional) sobre a “geração do milênio” nos EUA, Europa e Japão revela o fracasso de nosso sistema educacional em treinar os futuros trabalhadores para uma economia cada vez mais baseada no conhecimento (Educational Testing Service, America’s Skills Challenge: Millennials and the Future, 2015). Competência em leitura, aritmética e resolução de problemas é essencial para o sucesso em uma economia avançada e complexa.

O estudo do ETS mostra o quão terrivelmente deficientes nossos jovens estão no desenvolvimento dessas habilidades. Os números são surpreendentes:
  • Leitura: os jovens da “geração do milênio” americanos classificam-se abaixo de 15 entre 22 países participantes, acima apenas da Espanha e da Itália.
  • Aritmética: os jovens da “geração do milênio” americanos classificam em último lugar, junto com Espanha e da Itália. 
  • Resolução de problemas: os jovens da “geração do milênio” americanos ocupam o último lugar, junto com a República Eslovaca, a Irlanda e a Polônia.
Os detalhes deste relatório são ainda mais alarmantes. Os americanos da “geração do milênio” nos 90% de desempenho acadêmico obtiveram pontuações mais baixas que seus pares em 15 países, superando apenas a Espanha. Pior ainda, as pontuações dos americanos da geração do milênio com menores níveis de desempenho acadêmico (nos últimos 10%) foram menores do que as de seus homólogos em quase todos os outros países participantes. A faixa etária mais jovem desta geração (16 a 24 anos), aqueles que poderiam estar na força de trabalho até 2065, ficou em último lugar entre os seus pares em aritmética e estava no fim da lista também na resolução de problemas. Estamos formando mais estudantes na faculdade, e gastamos mais do que a maioria dos países europeus na educação pública, mas estamos falhando em treinar nossos filhos para uma economia globalizada e competitiva.

Os orçamentos universitários expandiram-se grandemente desde os anos 60. As demandas dos estudantes, professores e administradores têm contribuído para o custo do ensino superior. Os estudantes de hoje exigem mais do que um único dormitório com beliches. Eles esperam viver em apartamentos no campus. Já não serve uma xícara de café comum na lanchonete local; em vez disso, é preciso tomar café no Starbucks do campus. Eles demandam instalações recreativas sofisticadas, com máquinas de academia, esteiras e bicicletas. Salas de aula com um atril e um quadro-negro não são boas o suficiente. As salas de aula precisam ser inteligentes, com equipamentos que permitam aos professores fazer apresentações em PowerPoint para que os alunos possam aprender visualmente, mesmo enquanto olham para seus computadores ou iPhones em vez de tomarem notas. Tudo isso custa dinheiro.

Os salários dos professores aumentaram mais rapidamente do que os de qualquer outro grupo profissional, exceto os médicos. Um professor de tempo integral em uma instituição pública de cursos de doutorado de quatro anos recebe, em média, U$ 126.981,00 (cento e vinte e seis mil novecentos e oitenta e um dólares). Naturalmente, há grandes disparidades dentro das universidades e entre as universidades. Não obstante, salários mais altos para professores contribuem significativamente para o custo da educação. Professores exigem maiores salários embora ensinem a menos turmas. Enquanto isso, cada vez mais administradores universitários estão recebendo salários em nível corporativo. Somado a isso, estão os altos custos de treinadores e funcionários esportivos.

Os crescentes custos das universidades e da educação superior têm sido subsidiados pelo governo federal através de empréstimos estudantis e bolsas de pesquisa. Estes subsídios federais permitiram que faculdades e universidades aumentassem a taxa de matrícula dos estudantes. É um esquema de pirâmide. Os estudantes assumem dívidas para pagar uma educação universitária na esperança de um trabalho bem remunerado para pagar suas dívidas. Enquanto isso, bilhões de dólares de dívidas de estudantes não pagas constroem a pirâmide bamboleante.

Os administradores respondem à crise

Sob pressão para fazer frente aos crescentes custos, os administradores universitários passaram a expandir sua base de estudantes por meio da educação on-line, enquanto reduzem seus custos trabalhistas. Poucas pessoas na educação superior realmente acreditam que a educação on-line é tão boa, em termos de qualidade, quanto cursos presenciais. A promessa é que a educação on-line vai melhorar. Provavelmente sim, mas há uma grande diferença entre ter uma discussão em sala de aula com alunos reais e uma sala de bate-papo on-line. Conversas individuais com os professores após a aula ou durante as suas horas de trabalho sobre o curso que um aluno esteja fazendo ou sobre planos de carreira são difíceis de replicar em um curso virtual. Conversar on-line não permite tanto em termos de experiência pessoal.

Enquanto expandem a sua base de clientes, as faculdades e universidades estão cortando seus custos trabalhistas através da contratação de professores adjuntos. A titularização é um status declinante na maioria das universidades. Hoje, apenas cerca de 20% de todas as classes são ensinadas por professores titulares. Entrementes, os professores adjuntos têm um incentivo para dar notas mais altas. Alunos com notas mais altas dão avaliações de curso mais favoráveis, aumentando a probabilidade de que o professor adjunto seja recontratado no ano seguinte.

O que pode ser feito?

As faculdades do século XIX eram principalmente privadas e confessionais, protestantes ou católicas. Seu objetivo era treinar seus alunos em caráter moral e liderança. Era comum em faculdades protestantes o presidente da universidade lecionar sobre moral nos seminários que culinam o fim da graduação. O texto primário era Elementos de Ciência Moral, de Francis Wayland (1835). Esse livro tem suas raízes na Escola do Realismo de Senso Comum escocesa, no Cristianismo e “laissez-faire” econômico. O objetivo das faculdades era treinar cidadãos virtuosos.

Não podemos retornar ao passado. A faculdade tal como era no Século XIX está morta, exceto por algumas pequenas faculdades ainda preocupadas com conceitos como virtude, honra e valores mais elevados. Faculdades públicas e privadas, com poucas exceções, estão sob estresse financeiro, especialmente porque os governos têm-lhes cortado o financiamento. Este é um momento perfeito para que os doadores, os ex-alunos e o público insistam para que as universidades se preocupem com a alfabetização cívica e com as contribuições da cultura ocidental (mesmo dentro de um contexto global). Ex-alunos, doadores e fundações podem atrair administradores e professores para dotar centros e professores que ofereçam cursos tradicionais e introduzam estudantes a Aristóteles, Platão, aos Artigos Federalistas, Abraham Lincoln e autores de grande literatura.

Como Winston Churchill disse certa vez, nunca desperdice uma boa crise. Nessa tempestade perfeita dentro das universidades, foi criado o ambiente para uma real mudança de clima.

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